Informações diversas e actuais a respeito da paróquia de FORNOTELHEIRO - Celorico da Beira, distrito da Guarda

segunda-feira, dezembro 31, 2007

O papa realça o valor da familia tradicional

"Numa vida familiar sã experimentam-se algumas componentes fundamentais da paz: a justiça e o amor entre irmãos e irmãs, a função da autoridade manifestada pelos pais, o serviço carinhoso aos membros mais débeis porque pequenos, doentes ou idosos, a mútua ajuda nas necessidades da vida, a disponibilidade para acolher o outro e, se necessário, perdoar-lhe”. Bento XVI

Na verdade, é no seio da família que despertamos para a vida e para o valor da vida, que fazemos a primeira experiência do amor e o descobrimos e aprendemos a viver nas suas diferentes vertentes.

Este amor, que circula entre todos, anima e gere o mundo das relações, levando-nos à descoberta e vivência dos outros valores:
• a verdade e a sinceridade,
• a partilha e a doação,
• a gratuidade e a gratidão,
• a comunhão e a tolerância,
• a justiça e a solidariedade,
• o diálogo e a liberdade,
• a obediência e a disciplina…



São estas vivências e estes valores, experimentados e adquiridos naturalmente na nossa família, que, depois, transpomos, também naturalmente, para a nossa vida em sociedade, contribuindo para fazer dela uma verdadeira família, um autêntico mundo de paz.

A família humana, cada família é, deveria ser, essa é a sua principal razão de ser, uma comunidade de amor e de paz.

No entanto, hoje e desde algum tempo, verificamos que a família está em crise, sobretudo no nosso chamado mundo ocidental. São muitos os que atentam contra ela, quer ao nível dos indivíduos quer ao nível dos Estados. Esses esquecem, ainda não se aperceberam ou não o querem reconhecer, que a crise da família constitui a maior e mais grave ameaça à paz.

• Cada vez com mais facilidade e leviandade se desfaz o casamento e se destrói a família com apoio legal. E muitos, verdadeiramente inconscientes e insensatos, consideram isto como um avanço civilizacional!

• Depois, a equiparação das uniões de facto ao casamento e a aprovação dos casamentos homossexuais constituem uma clara e perigosa deturpação do conceito de casamento e de família.

• E porque não referir também, ainda que não seja politicamente correcto fazê-lo, a incapacidade ou a falta de vontade de muitos esposos e pais em construírem verdadeiras famílias – famílias que sejam comunidades estáveis de amor. Muitos desses não têm valores nem convicções. A quase todos esses falta o espírito de sacrifício.

No que se refere aos filhos, os pais, de um modo geral, fazem grandes sacrifícios para lhes darem coisas e garantirem bem-estar. Mas não estão dispostos a fazer grandes sacrifícios para lhes darem o que é mais importante e indispensável para eles: uma família na qual possam viver e crescer harmoniosa e equilibradamente “em sabedoria, em estatura e em graça”.

Quando se verifica esta situação de crise, as famílias, precisamente porque o não são, tornam-se geradoras de tensões e de conflitos, são responsáveis por diversos fenómenos de marginalidade e violência que afectam e perturbam a estabilidade e a harmonia sociais.

É claro que a família, para realizar a sua missão, para garantir bons cidadãos, autênticos construtores da paz, não só não deve ser atacada como, pelo contrário, deve ser oportunamente apoiada por todos, muito concretamente pelos Estados. Estes, se efectivamente desejam agir de boa fé, devem saber e assumir que o investimento feito em favor da família é o melhor e o mais eficaz investimento ao serviço da paz.

E nós, os cristãos, muito mais do que todos os outros, devemos trabalhar em prol da família, pois acreditamos que a família humana é sagrada, é imagem da família divina.

• Em primeiro lugar, devemos defender, com coragem e de-terminação, o valor inquestionável da família tradicional (fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher) sem temer que nos considerem tradicionalistas e antiquados.

• Depois, procurando construir a nossa própria família à luz da palavra de Deus e seguindo o modelo da Sagrada Família de Nazaré.

Só assim Deus nos tomará a sério, quando lhe suplicarmos o dom da paz.

De verdadeiras famílias é o que os indivíduos e a sociedade mais precisam

Já o sabemos e acreditamos: a Família de Nazaré – a família de Jesus, Maria e José - é a mais sagrada de todas as famílias. Mas também sabemos e acreditamos que todas as famílias são sagradas.
Na verdade, Deus sonhou e criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, ou seja, como uma família, já que Deus é uma família: Pai, Filho e Espírito Santo. É a família no seu todo, e não o homem e a mulher considerados individualmente, que é a imagem de Deus, o reflexo do seu ser e da sua vida. À imagem de Deus, a família é uma comunidade de amor geradora de vida!
Deus quis e quer que a vida dos homens na terra seja e se desenrole segundo modelo da vida do Céu, o seja, segundo o modelo da família divina, até porque é a essa meta última que Deus deseja conduzir a humanidade inteira.

Ao enviar o seu Filho ao mundo dos homens, Deus quis que Ele nascesse e vivesse numa família humana. E Deus providenciou-lhe essa família, escolhendo e preparando Maria e José. Até o Filho de Deus, na sua condição humana, teve necessidade de uma família!
Deus quis, como vimos no domingo passado, que José recebesse Maria como sua esposa e assumisse a missão de pai em relação a Jesus. Deste modo, ele passa a fazer parte integrante e insubstituível da sagrada família. Agindo assim, Deus reconhece que Maria, como qualquer mãe, tem necessidade de um marido e que Jesus, como qualquer filho deste mundo, tem necessidade de um pai. Mais, Deus mostra que só com José, o esposo e pai, a família fica completa e perfeita.
É nesta família e como membro desta família que Jesus vive, cresce e se desenvolve “em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens”, isto é, de um modo equilibrado, harmonioso e feliz.

Toda a verdadeira família é sagrada, tem a sua origem em Deus, tem a aprovação e a bênção de Deus. Com efeito, a família, “enquanto comunhão íntima de vida e de amor fundada sobre o matrimónio entre um homem e uma mulher, é uma instituição divina colocada como fundamento da vida das pessoas” (Bento XVI).
  • Fundamento da vida das pessoas. As pessoas só podem viver e realizar-se como pessoas na comunhão de uma família. A família é necessária para todos e ao longo de toda a vida, e não só até ao momento em que cada um atinge a sua maturidade e autonomia. Trata-se de uma necessidade que abarca todo o existir do homem, desde o nascimento até à morte.
    Tanto assim é que o homem e a mulher, quando deixam o pai e a mãe, segundo a primeira página da Bíblia, só o fazem para se unirem um ao outro, ou seja, para formarem uma nova família.
  • Eles vão dar origem a uma nova família, para assim garantirem uma família até ao fim dos seus dias, uma vez que, segundo a normal lógica da vida, os pais partem antes dos filhos. Só dando origem a uma nova família – uma nova comunidade de amor geradora de vida – se perpétua a anterior, se assegura a sua sobrevivência, se garante o seu futuro.
    Por conseguinte, o deixar os pais, o formar uma nova família não significa, não pode significar, não seria justo que significasse renegar a família dos pais ou privar os pais da família, a família a que eles continua a ter direito e da qual continuam a ter necessidade até ao fim da sua vida.
  • Os filhos que partem não podem esquecer ou descurar os seus deveres em relação aos pais, sobretudo quando eles, por motivos de idade ou de doença, mais precisam do seu apoio e do seu amor.
O autor do livro de Ben-Sirá recorda oportunamente esses deveres dos filhos: “Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida”.

A ingratidão para com os pais parece ser um mal antigo. A exortação do autor sagrado, a necessidade de dirigir este apelo aos filhos revela que muitos estavam em falta.
  • Hoje, também são muitos. São, infelizmente, cada vez mais aqueles que não cumprem o quarto mandamento das Lei de Deus. Por isso, são muitos os pais que, nas suas próprias casas ou nos lares onde os colocaram, sentem o esquecimento e abandono dos filhos. A solidão a que são votados torna dramática e angustiante a sua vida, constitui o seu maior sofrimento, o mais difícil de suportar! Uma dor intensa e amarga que, normalmente, eles aceitam e vivem no silêncio. O silêncio próprio de quem continua a amar, apesar do seu amor não ser correspondido por aqueles que mais amam!

  • O amor e o apoio aos pais não deve ser entendido nem vivido como um simples dever, muito menos como um peso ou um fardo. Pelo contrário, como uma providencial oportunidade que temos de lhes retribuir um pouco pelo muito que fizeram e continuam a fazer por nós. Digo, continuam a fazer, porque, apesar de limitados fisicamente ou mesmo mentalmente diminuídos, eles continuam a amar-nos, oferecendo os sacrifícios da sua vida e rezando a Deus por nós.
  • Quem ama verdadeiramente os pais, quem vê neles a imagem mais fiel de Deus (os pais são, na realidade, a imagem mais próxima Deus, são o que temos de mais sagrado na terra!), quem tem consciência de que existe e de que deve o que é ao amor continuado e sofrido dos pais, esse considera uma sorte e sente-se feliz por poder fazer e sofrer alguma coisa por eles.
  • Além disso, deve ter presente a generosa recompensa de Deus: “a tua caridade para com o teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados”. Vede quanto vale aos olhos de Deus a caridade para com os pais! Ela obtém-nos o perdão dos pecados!


Aqueles que não amam e não cuidam dos pais, também não serão, por sua vez, bons pais em relação aos seus filhos. Esses não cumprirão responsavelmente a sua missão de pais, não construirão verdadeiras famílias.

De verdadeiras famílias é o que os indivíduos e a sociedade mais precisam.

Voltaremos a falar da família no dia de Ano Novo, já que o tema escolhido pelo Santo Padre para o próximo Dia Mundial da Paz é precisamente este: “Família humana, comunidade de paz”.
Entretanto, olhemos para a Sagrada Família de Nazaré, aprendamos com ela a ser família e imploremos a sua protecção para a nossa e para todas as famílias do mundo.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Mensagens de Natal

"Não são poucas as regiões do mundo onde o simples ir à Igreja constitui um testemunho heróico que expõe a vida da pessoa à marginalização e à violência. No mundo de hoje, os cristãos ainda são perseguidos, presos e torturados por causa da sua fé em Cristo, e algumas vezes, também sofrem e morrem pela sua comunhão com a Igreja universal e pela fidelidade ao Papa”.

Bento XVI

"O afastamento de Deus, ou o seu esquecimento e negação, constituem o maior drama da humanidade. Aconteceu, tantas vezes, em nome da autonomia do homem e da sua liberdade, pensando que pela sua inteligência e engenho podia atingir a plenitude da vida".

D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa

"É urgente que os políticos e outros responsáveis pela vida pública assumam a coragem de construir um futuro equilibrado, de tal maneira que sejamos um País e uma nação onde todos têm vez e voz”.
D. Manuel Felício, Bispo da Guarda

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Amanhã a Estação está em festa...

Amanhã a Estação está em Festa, porque celebramos os 25 anos da Inauguração da Capela. É uma data marcante para esta Comunidade e, por isso mesmo, todos estão convidados a associar-se.
Não é o edifico (renovado e melhorado) que é importante, mas as pessoas que se reunem aqui para celebrar a sua fé.
Neste dia, todos somos convidados a recordar o Sr. Pe. Alberto Ribeiro e todos aqueles que, de alguma forma e com muito esforço, contribuiram com o seu empenho para levantar esta obra. Apesar de muitos dos responsáveis já estarem junto de Deus, nós queremos manifestar-lhe a nossa mais profunda gratidão. Eles continuam vivos no nosso coração e certamente junto de Deus.
A todos o nosso muito obrigado.

A Todos um Feliz Natal


Aproveito para desejar a todos a presença viva de Jesus no coração, que Ele nasça todos os dias em cada um.
BOM NATAL

sábado, dezembro 22, 2007

Natal, origem e tradições

O Natal é um tempo como nenhum outro, na vivência comunitária e familiar, tendo gerado um pouco por todo o país e o mundo modos próprios de o celebrar e de lhe apreender o significado.

A Igreja, na sua missão evangelizadora, quis dedicar um tempo para aprofundar, contemplar e assimilar o Mistério da Encarnação do Filho de Deus, tempo este que conhecemos como o Natal.

O dia 25 de Dezembro não é, necessariamente, a data histórica do nascimento de Jesus em Belém, na Judeia, no ano 748 da fundação de Roma. O "Dies Natalis" ou "Natalis Domini" foi marcado no dia 25 de Dezembro pela Igreja, com o Papa Libério, desde o século IV, a fim de suplantar a festa pagã do deus Sol, "Dies natalis invicti solis", celebrada no solstício de Inverno.

A própria designação de Natal parece ter maior conexão com a tradição cristã, do latim "Natalis" que significa nascimento. No entanto, existem muitas outras versões para a origem da palavra, algumas das quais saídas da tradição pagã, como a de "Noio hel" que significa Novo Sol.

Por outro lado, a árvore que antes era adorada por si própria ou como símbolo de vida, foi associada à celebração cristã. Para afastar os fiéis da prática de festas idolátricas, a Igreja quis ressaltar que a verdadeira luz que ilumina todo homem é Cristo e a celebração do seu nascimento na carne humana é a solenidade própria para afirmar a autêntica fé no mistério da Encarnação do "Verbo", solenemente afirmada nos quatro concílios ecuménicos de Niceia, Éfeso, Calcedónia e Constantinopla contra as grandes heresias cristológicas.

Os primeiros dados históricos relativos à festa do nascimento de Jesus Cristo remontam ao ano 336, em Roma. A eles estão ligados dois acontecimentos determinantes:
  • o Édito de Milão, em 313, pelo qual o imperador romano Constantino deu liberdade de culto aos cristãos,
  • e a existência de uma festa pagã, iniciada por Aureliano, no ano de 274, a 25 de Dezembro, em que se divinizava o sol, comemorando-se o seu "nascimento".
  • Na Igreja do Oriente, o Natal, como manifestação ou "Epifania" de Jesus, celebra-se no dia 6 de Janeiro.

A solenidade da Epifania passou para o Ocidente nos finais do séc. IV, pretendendo-se celebrar a vinda dos magos, a consequente manifestação de Jesus Cristo como Senhor de todos os povos, luz do mundo. Os textos bíblicos não especificam o dia ou mês do nascimento de Jesus. O Natal, a sua origem e tradições seguem a tradição captada por São Lucas (2,4- 7), o nascimento de Jesus aconteceu em Belém de Judá, a terra do rei David, de cuja linhagem era José, o esposo de Maria. Nos Evangelhos se afirma que Maria "deu à luz um filho e [José] pôs-lhe o nome de Jesus" (Mt 1,25) e que Maria "teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria" (Lc 2,7).

A tradição cristã situa o nascimento numa gruta, dado que vem de vários evangelhos apócrifos. O Livro da Infância do Salvador, dependente do influente Protoevan-gelho de Tiago (séc. II), queria pôr em relevo a virgindade de Maria. E conta que, tendo chegado a Belém, José procurou um sítio para ela dar à luz. Viu um estábulo solitário e estabeleceu-se lá. E foi em busca de uma parteira. Segundo o Evangelho do Pseudo-Mateus, nº 14, o nascimento de Jesus numa gruta contou com a presença do boi e do burro. É desse texto que provém a tradição cristã de os colocar no presépio.

O nascimento terá ocorrido, efectivamente, no ano 6 ou 7 a.C. O início da era cristã, fixado por Dionísio, o Exíguo (c. sécs. VVI), foi mal calculado, pois o rei Herodes morreu no ano 4 a.C. Com São Leão Magno, o Papa do concílio de Calcedónia, deu-se a essa solenidade o fundamento teológico, definindo-a como "sacramentum nativitatis Christi" para indicar seu valor salvífico.

Na piedade popular, o Natal goza de grande popularidade, por focar Jesus Menino no ambiente familiar. São tradições ligadas ao Advento a coroa de ramos com quatro velas que se vão acendendo sucessivamente nos quatro Domingos deste tempo; a novena do Natal, que se deve enquadrar no espírito dos dias 17 a 24, em que, nas Vésperas, se cantam as antífonas maiores ou do "Ó"; e a preparação próxima do Natal.

Com o Natal inauguram-se o presépio e a árvore do Natal armados nas igrejas, casas, montras de estabelecimentos e até nos largos das povoações. O Natal é um tempo como nenhum outro, na vivência comunitária e familiar, tendo gerado um pouco, por todo o país e no mundo, modos próprios de o celebrar e de lhe apreender o significado.
Fonte: ecclesia

quarta-feira, dezembro 05, 2007

D. Manuel Felício dá novas orientações pastorais para a Iniciação Cristã

A cúria Diocesana da Guarda acaba de publicar um texto com o título “Orientações pastorais para a Iniciação Cristã”.

Depois de um longo tempo de reflexão e consultas variadas, que demorou mais de um ano, o documento apresenta normas que foram elaboradas para ajudar os párocos e outros agentes pastorais e actuar com unidade de critérios na pastoral da Iniciação Cristã e da formação na Fé.

Depois de dizer o que é a Iniciação e o Catecumenado, o texto dá orientações para a prática pastoral em toda a nossa Diocese, nas seguintes situações:
  • Baptismo das crianças nos primeiros dias de vida;
  • Baptismo de crianças em idade de catequese;
  • Primeira Comunhão e Sacramento da Confirmação;
  • Adultos que pedem o Baptismo;
  • Iniciação Cristã e formação permanente de adultos baptizados em criança.

Recomenda-se vivamente a leitura e aplicação destas normas por todos os agentes pastorais, a começar pelos sacerdotes, para termos unidade de critérios, ao decidir sobre as várias situações aí contempladas”, refere D. Manuel Felício, Bispo da Guarda, em relação ao documento.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

ESTAR A SER ADVENTO

Irmão,
abre-te à paz do silêncio,
enche de amor o teu coração,
ilumina a tua vida com a verdade e a coragem.
Não desanimes.

Está a ser advento.
Deus está a acontecer em ti.
Mesmo que fosse a vida toda,
o tempo seria sempre pouco para rezar.

O que se segue à oração (se houver oração)
não é outra coisa senão oração.

Há o acto de oração e há o estado de oração.
É preciso estar atento ante a possibilidade de um discurso dissolvente.
Nunca tentemos amenizar o imperativo de rezar.
Se algum problema há neste campo,
não é de excesso;
é de défice.

A Porta Aberta

«Hoje, Ele abre-nos de novo a porta para o esplendor do paraíso. O querubim já não está de guarda: ao Senhor seja dado o louvor, a glória e a honra!».

Esta estrofe de um Lied do século XVI, num texto de Nikolaus Herman, é cantada, muitas vezes, na Missa da meia-noite, na noite de Natal.

O versículo vem mesmo do coração do acontecimento do Natal. A porta estava fechada quando Ele bateu, incógnito e escondido no humilde ventre de sua Mãe.

Agora é-nos proclamado: a entrada do paraíso já não é proibida; a porta foi aberta definitivamente.

Interroguei-me sobre qual seria o peso específico da nossa época,onde residiria a sua necessidade mais urgente, e lembrei-me desta antiga estrofe.

Quantas vezes me foi dito: a porta está fechada; já não se pode entrar. Pensava nas preocupações de âmbito político, onde os poderosos ameaçam fechar-se no seu poder e os fracos na sua debilidade; na ânsia nos negócios; no receio de perder o emprego: está tudo fechado, não há nada a fazer; no receio pela Igreja; partidos e grupos preocupados pela ideia de que não se consegue modificar nada, que tudo esteja encalhado.

E pensava nas pessoas que casualmente encontro, desesperadas por causa dos seus parentes mais próximos: pais que receiam não poder voltar a falar com os seus filhos; filhos que dizem que a porta já está trancada, o diálogo com os pais já está estragado. Pensava nos casais, nos amigos que dizem que a vida comum e a comunhão entre eles se bloquearam.

Nestas experiências todas percebe-se o eco de uma experiência ancestral da humanidade: a consciência de a porta do paraíso estar trancada; do facto de nos ter sido proibido o lugar que nos é mais propício, o habitat originário da nossa vida, que deixámos e do qual fomos expulsos. Assim, decidimos agarrar nós a nossa vida e fazer de Deus uma figura de segundo plano.

a) Tentação de forçar a porta
Usando só as nossas forças não conseguimos forçar a porta e tomar posse do Paraíso. Qualquer promessa de salvação apenas terrena vai chocar contra um obstáculo intransponível, reduz-nos aos nossos limites e leva-nos à resignação.

b) Ilusão de um paraíso
Muitas vezes seguimos um outro caminho: evadimo-nos num sonho infantil, ao mesmo tempo emocionante e perigoso, o sonho do paraíso, que está constantemente a ser aproveitado e, nos nossos dias, comercializado da pior maneira.
Assim, não fazemos outra coisa além de cair na desilusão: quando procuramos obter, a todo o custo, a nossa felicidade, agarrando-a ou criando a ilusão de algo "paradisíaco"; quando tentamos usar da força para entrar no paraíso, ou sonhamos que a nossa debilidade não existe...

c) Deixar-se convidar por Aquele que é a Porta
Nesta situação introduz-se, humildemente, o anúncio do Natal, que mostra um outro, um terceiro caminho: não podemos penetrar no íntimo mais secreto do mistério, com as nossas forças, nem podemos abrir a porta do paraíso com a astúcia. Para nós, ela só pode abrir-se pela mão d'Aquele que é Senhor da nossa vida. Ele chegou no Natal.
Apesar de não nos podermos elevar com as nossas forças, Ele pode descer até nós; apesar de não podermos entrar, reivindicando uma espécie de "auto-senhoria", Ele pode vir até nós. Foi isto que Deus fez em Jesus. Neste Menino, Ele aproximou-se de nós; neste Menino, Deus está perto de nós e no meio de nós. Nós não estamos em condições de percorrer a distância que nos separa d'Ele, mas é Ele a percor­rê-la; e, ao percorrê-la, leva-nos consigo. Com Ele podemos ir ao Pai. Prosagogé (acesso) é um termo importante do Novo Testamento. Em Jesus Cristo este acesso foi aberto.
Por isso, já não nos encontramos diante da porta fechada do paraíso, mas podemos deixar-nos convidar por Aquele que é a porta; n'Ele adquirimos condições para entrar no espaço aberto de Deus, em cuja porta já não está nenhum querubim a repelir-nos; ninguém pode fechar esta porta, uma vez que foi aberta de uma vez para sempre; nenhuma violência, nem culpa do mundo será capaz de voltar a fechá-la.

d) Maria, o caminho para chegar à Porta
Contudo, resta-nos perguntar o que nós devemos fazer para encontrar o caminho que leva a esta porta e para a conseguir transpor. Que passos podemos dar neste caminho que nos foi aberto em Jesus? Há um modo com o qual o homem pode ser participante deste caminho, uma estrada do homem, que nos é possível percorrer.
É o caminho de Maria,a quem aparece o anjo, a quem Deus vem perguntar se está preparada. Maria é aquele ser humano que, à pergunta do anjo, responde com o seu sim. Ela permitiu que Deus, que veio ter com ela, entrasse nela, e deu-Lhe espaço em si; no seu coração continuou para Deus e com Ele, e deu-O a nós, de tal modo que os anjos, no Natal, pudessem convidar-nos a voltar, de novo, a Ele.
Maria conduziu aquele "diálogo supremo" e deixou-se envolver naquele "encontro supremo" da humanidade, em que a porta se abriu: Deus veio ao encontro do ser humano e o ser humano respondeu e aproximou-se de Deus. Isto aconteceu, de uma vez para sempre, entre o anjo de Deus e aquele ser humano que se abriu, em nome de toda a humanidade, a este diálogo, indicando-nos, assim, o caminho em que se realiza o Natal, também para nós: deixemos que Deus venha ao nosso encontro, aproximemo-nos, com Ele, d'Ele e dos outros.

e) O «sim» do diálogo que abre a porta!
Um diálogo assim, levado ao máximo nível, é, por muitas razões, necessário a todos nós. Cada um de nós é o vértice da humanidade, em cada um de nós deve acontecer algo que só através d'Ele se pode verificar. Deus espera, neste mundo, de cada um de nós, um sim, que apenas cada um pode dar, no lugar onde se encontra: se dissermos sim, cada um do lugar onde se encontra, então, no mundo, elevar-se-á uma luz; mas se nos recusamos a estar ali, onde fomos chamados, fecha-se uma possibilidade na nossa história.
Por isso, cada um de nós é o vértice da humanidade, cada um tem a sua vocação, e cada um deve dar um impulso para abrir aos outros, aqui e agora, neste lugar, neste momento, a porta que, em Jesus Cristo, foi aberta.
Reflictamos nisto, no Natal: se sabemos responder ao chamamento de Deus com o sim da nossa vida, o mesmo sim de Maria. Então, este sim será apoio para a nossa força e para a nossa fraqueza, para este trabalho sem sentido, para este endurecimento dos rostos; aceitaremos aquele homem, esta criança, estes pais, este parceiro, esta fidelidade: esta cruz.
E, depois, é impossível esquecer que também entre nós são constantemente necessários diálogos supremos, para que se abram, também entre nós, as portas. Não existe outro método, não existe outro caminho, senão aquele que Deus empreendeu: ir ao encontro do outro, e ir, com Ele, ter com os outros. Jesus Cristo é a porta, Ele é a parte de Deus voltada, dedicada a nós: n'Ele, Deus, depois do sim de Maria, veio a nós, para sempre. A porta do paraíso foi aberta, o querubim já não vigia a entrada. Aliás, convida-nos a entrar com o nosso sim, e a proclamar aos homens, com os anjos do Natal, o louvor e a glória de Deus.