Informações diversas e actuais a respeito da paróquia de FORNOTELHEIRO - Celorico da Beira, distrito da Guarda

terça-feira, agosto 26, 2008

FORNOTELHEIRO E os seus Encontros Etnográficos

Hoje apetece-me falar da minha terra, ou melhor, da freguesia donde sou natural, segundo os registos civis e religiosos. Digo isto porque pouca gente me identifica como sendo natural daquela freguesia. Passei a minha meninice muito perto da vila, e, devido a isso, ainda muita gente afirma que nasci onde hoje moro. Como qualquer mortal, não me lembro de ter nascido, mas posso afirmar sem qualquer receio de engano que não foi onde resido.
Durante a minha juventude, vivi bastante arredado da sede da minha freguesia, posso até dizer que no Recenseamento Militar nem ali era conhecido. Por onde andava, também não ouvia naqueles tempos as melhores referências aos seus moradores. Com o andar dos tempos, concluí que isso não passa de rivalidades entre povos vizinhos, dado que os outros também são apodados de natureza idêntica.
Hoje sinto uma certa vaidade em ser natural do Fornotelheiro, e, se me permitem, vou dizer porquê.






Em freguesia é a mais extensa do concelho de Celorico da Beira, dentro das rurais é a que tem maior população, é onde está sedeado o Parque industrial do concelho, em gado ovino, se bem que os maiores rebanhos não estejam no seu limite, é a que tem maior número de cabeças e mais fabricantes de queijo. No seu termo, embora desactivada, tem uma estância termal de soberba qualidade, e ainda um filão de granito do mais valioso da região. Tem a maior frente ribeirinha para o Mondego, que, juntamente com a ribeira das Olas, lhe dão das terras mais produtivas da Beira, e, neste aspecto, ainda tem em plena produção o Pomar da Quinta do Reguengo, que em épocas áureas foi sempre dos maiores do distrito, mas que ainda hoje produz mais maçã que o resto do concelho.
No campo histórico, foi vila de que ostenta o seu pelourinho, e a forca onde ainda se notam as colunas com as respectivas chanfraduras. Bem perto da povoação está a Necrópole de São Gens, que tem sido um palco constante para quem investiga nesse sector.
Para além da sede, tem mais quatro anexas, Cardal, Quintas do Salgueiro, Casas do Rio e Estação. A Estação designação que se dá a Celorico da Beira Gare, obviamente nasceu em finais do século XIX, com a criação da Linha de Caminho de Ferro da Beira Alta, sendo implantada em três topónimos: Ingotas, Olas e Jardim.
Nos dias que correm, a Estação é a localidade de maior movimento dentro do concelho. Não só pelo que lhe é dado pelo Caminho-de-ferro, mas também pelo trânsito rodoviário proveniente do Norte do distrito, bem como do Nordeste Transmontano. Tudo isso lhe cria um comércio movimentado, e torna-se ponto de encontro para muitas pessoas, pois quase é uma paragem obrigatória. Eu próprio ali me desloco todos os dias, não só pelo pequeno-almoço, mas também na esperança de encontrar uma cara que há muito tempo não veja.
Está equipado com lar para idosos, três instituições para a infância, escolas de Ensino Básico, no Fornotelheiro e Estação. Tem associações de lazer em todas as povoações com excepção do Cardal.

Mas para quê tudo isto que vos disse?
Para vos dizer que esta importante freguesia de âmbito regional, tem vindo a realizar os seus Encontros Etnográficos. No passado mês de Julho, a 25, 26 e 27, teve lugar na sede de freguesia o evento denominado IV Encontros Etnográficos do Fornotelheiro. Como o próprio nome indica, é a Etnografia que se impõe, que faz recordar aos mais antigos os usos e costumes que se perderam na evolução dos tempos, e mostrar aos mais novos os ofícios e o modo de vida de outras eras. Eu por acaso participei no III Encontro que teve lugar no Verão de 2006. Tinha uma barraquinha onde expunha a minha modesta colecção de relógios de corda. Muito embora fosse muito bem acolhido, acabei por não dar o meu contributo este ano, mais por uma questão pessoal, pois estou envolvido noutras tarefas que me consomem bastante tempo. Mas fui lá ver como tudo estava a decorrer. Ouvi uma palestra sobre a fixação de gente no Mundo Rural, a cargo de distintos oradores que me deixou muito esperançado, uma vez que como filho do campo me considero um acérrimo combatente contra a desertificação
Do que vi exposto em matéria artesanal gostei, muito embora afirme que, nesse campo, não sou um verdadeiro perito. Os simulacros dos trabalhos agrícolas e artesanais, também os encontraram muito bem encenados. Os Grupos Folclóricos evidenciavam obviamente a sua região, mas aqui o Fornotelheiro apareceu com o seu próprio, recolhendo os cantares e as danças de outrora. Encantaram-me os tocadores de concertina, instrumento tão melodioso que esteve tantos anos adormecido. Tive pena de não ver tocar o “MANEL RESINEIRO”, acordeonista dali natural, que há quatro décadas enchia com pares de dançantes os principais terreiros das aldeias de muitas léguas em redor.
Para finalizar, deixei o que mais me encantou: A culinária, com os sabores de outros tempos, pensava eu, que as nossas avós não tinham doado esse segredo a ninguém. Passar por ali e comer uma miga de repolho ou de ervilhas, pode dizer-se que não se fica com inveja do mais fantasiado prato criado pelo mais condecorado mestre de cozinha.
Mas não tenho a menor dúvida de que tudo isto deu trabalho. Pelo que ouvi do meu amigo Agostinho dos Santos, presidente da Autarquia, os homens estiveram na rua a levantar as estruturas necessárias, enquanto as mulheres em casa punham em prática o seu saber para deliciar os visitantes.
Podem crer que agradeço a todos o empenho, a contribuição que deram, e, acima de tudo, a vossa hospitalidade genuína de tão bem saber receber.

Por: José Albano Ferreira in Jornal Nova Guarda